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domingo, 25 de maio de 2014

Relato de nascimento da Manuela. (Parto Humanizado)


Relato de parto e pós-parto. Nascimento de Manuela (bebê), Lorena (mãe) e Victor (pai)

Acho importante antes de descrever o grande dia, falar rápido de como chegamos a ele. Logo que descobri a gravidez, sempre disse que queria um parto normal, não queria escolher o dia que minha bebê viria ao mundo, queria que ela viesse quando estivesse pronta. Mas nem imaginava o quanto isso está ficando difícil atualmente! Fui em 7 obstetras, nenhum deles se dispôs a fazer o meu parto normal. Todos fariam cesárea, e se eu quisesse PN seria com o médico plantonista do hospital. Acho que poucas gestantes, com pouco conhecimento, teriam coragem de encarar o plantão de um hospital no grande dia. Foi assim comigo. Acabei “optando” por uma cesárea eletiva, e fui acompanhada por dois obstetras. Fiquei triste, mas tentei me consolar que “o importante é o depois que nasce”, o nascimento seria só um detalhe...


Até que no oitavo mês de gestação, um amigo falou pra Victor (meu marido) sobre o grupo Rodaviva, um grupo de apoio ao parto humanizado. Ele nos convidou para uma roda de conversa sobre “as dores do parto”. Victor me ligou super empolgado e eu joguei um balde de água fria nele dizendo “mas eu já vou ter cesárea, pra que assistir uma palestra sobre dor?”. Ele desligou o telefone. 2 min depois eu pensei: poxa, meu marido que nem vai parir ta empolgado, e eu assim...ai mudei de ideia e fomos para a roda. Nem sabia que ali nossas vidas mudariam! A conversa foi maravilhosa, transformadora e inspiradora! Lá fiquei sabendo sobre o Centro de Parto Normal da Mansão do Caminho. Na segunda fui conhecer o centro e me apaixonei! Decidi: Manu vai nascer aqui. Na semana seguinte levei Victor ao centro e ele (ainda bem!) teve a mesma reação que eu. Pronto, mudamos nossa estratégia, faltava agora nos prepararmos para um parto totalmente diferente!

Comecei a conversar informalmente com Hellen Chang no Facebook, que estava na roda e foi muito solícita comigo. Começamos a pensar na importância de ter uma doula para esse momento...será que seria mesmo preciso? Não bastava só a gente ler e se informar? Mas optamos por ter esse acompanhamento, e Hellen topou nos ajudar. Escolha mais que acertada! Continuamos frequentando a roda, ouvindo depoimentos, fortalecendo ainda mais nosso plano, e nos preparando para essa espera, no fim do oitavo mês passei a fazer fisioterapia para gestantes, na Mansão do Caminho mesmo e entrei no pilates. Tudo que deveria ter feito desde o começo ocorreu durante umas cinco semanas. Foi o mês mais intenso da gravidez, e inesquecível. Me senti grávida de verdade, me senti mais viva! Muita gente se assustou sobre como uma pessoa com plano de saúde opta parir pelo SUS. Mas só quem conhece o CPN entende essa escolha (e quem não conhece, TEM de ir lá!). 

Enfim. Meu trabalho de parto começou com um sonho. Na madrugada do dia 23 de agosto de 2013 sonhei que minha bolsa havia estourado. Foi um daqueles sonhos tão reais que você acorda tendo certeza de que aconteceu mesmo. Mas constatei que tinha sido apenas sonho e acordei com uma sensação que não sei explicar. As 7h da manhã fui para o pilates, onde notei uma borrinha de sangue e fiquei super feliz porque finalmente os sinais começavam a aparecer! Fiz os exercícios normalmente, sentindo uma contração ou outra, diferentes das contrações de treinamento que estava acostumada a sentir, mas sem criar grandes expectativas. Logo eu, que sou a ansiedade em pessoa, tinha chegado as 39 semanas e 6 dias sem nenhuma ansiedade. Apesar de desejar o parto no CPN mais que tudo, pedia sempre a Deus que o parto fosse do melhor jeito para ela e para mim, e que se fosse pra ser no CPN seria, não iria ficar ansiosa para que viesse antes das 41 semanas.

Voltei pra casa e contei pra minha sogra sobre o sonho, a borrinha de sangue e a diferença nas contrações. Não contei pra mais ninguém naquela hora sempre buscando evitar as expectativas e pressão. Mas as dores começaram a aumentar e eu não queria contar para minha sogra, pois não sabia o quanto ela iria ajudar ou se assustar. As 10:58 entrei em contanto com minha doula linda Hellen, informando sobre essas contrações e ela, com toda tranquilidade do mundo, me indicou chuveirada, descanso e tentar distrair a mente. Victor voltou pra faculdade pra pegar o carro e voltar pra casa para me ajudar a contar as contrações. Mas o carro nos deixou na mão justo nesse dia! Ficamos em casa nós três, eu debaixo do chuveiro, Victor contando as contrações e minha sogra tentando se manter o mais serena possível. Falamos com Hellen no telefone por volta de 14h, e ela decidiu que se arrumaria para vir para minha casa. As contrações ainda eram irregulares e suportáveis.

Hellen chegou por volta de 17h com óleo, bola, paciência, e segurança pra mim e para Victor. Me lembrou que eu precisava vocalizar entre as contrações para ajudar a abrir o colo do útero, ensinou a Victor como fazer as massagens para aliviar as contrações e revezava nessa função com ele. Hellen representou tudo o que a gente leu nesse um mês de preparação para o parto ativo e natural, mas que corria o risco de se perder no grande dia devido à ansiedade. Com o mesmo olhar ela passava força, amor e tranquilidade, dizia “calma, você esperou e sonhou com isso, só precisa deixar rolar e se entregar a esse momento”. 

Ai você começa a entender uma das grandes diferenças do “parto humanizado”, você não está lutando contra a dor, você está andando junto com ela! Está esperando que ela fique mais e mais intensa, está torcendo por isso! Você não está sofrendo, está preparando seu corpo para essa onda maravilhosa (isso eu percebi depois de ter sentido muita dor :D  ). E você percebe também porque as doulas são tão essenciais. Elas são anjos, elas são a sua força quando você acha que vai enlouquecer, elas passam a tranquilidade e a força que o seu companheiro precisa para te apoiar da maneira mais suave nesse momento. E como rolou! Victor não foi nada do que esperava dele no dia do parto. Ele foi MUITO melhor. Esteve junto o tempo todo, lúcido, confiante, me enchendo de amor e companheirismo. Ele pariu junto comigo! Não sei se teria conseguido sem Victor e Hellen.

Acho que a partir de 18:30 as contrações já estavam de dois em dois minutos, e junto com elas aquela vontade de fazer força. Eu vocalizava e gritava quando a vontade de fazer força vinha, mudava de posição, recebia massagem, ouvia música...tudo muito intenso, eu planejei tirar foto da barriga no último dia, mandar mensagem para os meus amigos mais próximos e meus pais, e ir para o CPN com toda calma. Não rolou nada disso, mas foi maravilhoso do mesmo jeito. Depois de Victor ter conseguido o carro do vizinho emprestado, começamos a nos preparar para ir para o CPN, por volta de 19:30. Com as contrações de 2 em 2 min, saímos da Federação as 20h, rumo ao CPN.Durante a viagem eu pensei em cesárea por diversos momentos. Me questionei porque eu tinha escolhido sentir essas dores, porque eu não tinha deixado a cesárea eletiva mesmo, sem esse processo. Não comentei isso com ninguém, porque não sabia se minha sogra iria entender esse momento de loucura e ia desesperar querendo que a gente fosse para o hospital. 

Chegamos ao CPN as 20:20, fomos para a sala de exame, e o alívio veio quando a médica fez o toque e disse “oxe, tá toda dilatada já”, estava acontecendo! Nós iríamos parir! Fomos para um dos quartos, Victor entrou no chuveiro comigo, sempre com as massagens. Hellen e a enfermeira Lizandra ficaram assistindo. Me toquei e senti algo com a textura de uma bexiga, gritei: “to sentindo algo, mas não é a cabeça dela porque está careca!” E Lizandra sorrindo me disse: “é a bolsa, Lori!”. Deixei Victor sentir a bolsa também, e depois daí fiquei ali, sentindo as contrações e sentindo a bolsa, ainda inteirinha, envolvendo Manuca. Saímos do chuveiro e quis ir para o cavalinho, de onde não quis mais levantar. Victor ficou atrás de mim, me dando apoio, Hellen e Lizandra me acompanhando. Acho que o expulsivo começou as 21h. 

Durante as contrações fazia força e vocalizava, como tinha aprendido, mas não tinha energia suficiente para manter a força por muito tempo. A médica me orientou a travar a mandíbula, prender a respiração e fazer força pra dentro. Exatamente como tinha aprendido a não fazer. Mas naquele momento foi o único jeito que consegui de fazer força por um tempo maior. Fazia força, ansiando pelo “círculo de fogo”, eu queria ver logo minha filha! Com o incentivo de todos que estavam presentes no momento, consegui fazer a força por mais tempo, ai, em uma contração a bolsa estourou e Manuca quase apareceu. Isso me deu mais força, chamei por ela, “vem, Manu”, ai quando a outra contração chegou senti o círculo de fogo, fogo de vida! A cabecinha dela saiu. Nesse momento eu só queria pegar logo minha filhota e fiz mais um pouquinho de força, e ela saiu, inteirinha, linda, melecada e tranquila! 

Veio direto para os meus braços. Eu nem sei descrever o que senti naquela hora. Ela era perfeita! Ela era puro amor. Manuca nasceu as 21:34, pesando 3,805kg (ah, se meus obstetras soubessem disso!) e com 49cm. Nunca pensei que a perfeição pudesse ser uma coisinha tão pequena. Foi realmente único poder trabalhar em equipe com Victor e Manuca para que ela viesse ao mundo. Não tem nenhum “incômodo” do pós parto que tenha me feito pensar que deveria ter permanecido na cesárea. 

Na sexta feira do dia 23 de agosto de 2013 acordei com uma música na cabeça: “na bruma leve das paixões que vem de dentro, tu vens chegando pra brincar no meu quintal. No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento, e o Sol quarando nossas roupas no varal. Tu vens, tu vens, eu já escuto seus sinais”. Essa música agora representa o melhor dia de minha vida.

Um recado que deixo para quem ainda está grávida e deseja REALMENTE o parto natural: lute por ele! É uma luta ainda difícil nos dias atuais, requer persistência, paciência, e muita informação e suporte. Mas vale MUITO!

Hoje, 9 meses após escrever esse relato, volto a cada minuto daquele dia, agora olhando para Manuca aqui conosco. A maneira como ela nasceu me trouxe muitos questionamentos sobre o cuidado e criação que deveria ter com ela, sem medo de “viciar”, “mimar”, “estragar”. Sobre o cuidado com amor, respeitando as fases que ela precisa passar para se desenvolver e compreender o mundo em que vive agora. Posso dizer que Victor e eu também nascemos no dia 23 de agosto de 2013, pois desde esse dia somos pessoas totalmente diferentes, ensinados a cada dia por essa pequena.


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