“Dize-me como brincas e te
direi... como tu és”.
É através da brincadeira que as crianças têm a possibilidade de compreender seus problemas, como as coisas funcionam e também noções de reversibilidade. Esta é adquirida aos poucos a medida em que ela pode avaliar seus atos verificando as consequências embutidas nele.
É no
decorrer destas que há a possibilidade de serem expressos sentimentos que
normalmente teriam dificuldades ou não conseguiriam colocar em palavras.
É na
idade das brincadeiras que há a possibilidade de construção de uma ponte entre
o “mundo inconsciente e o mundo real” (BETTELHEIM, 1998, p. 154). Neste caso, o
lúdico interage entre os mundos externo e interno. Com a ação no mundo real a
criança pode entender o significado de tudo que a cerca.
No
processo de construção da identidade para nos tornarmos nós mesmos precisamos
de experiências em quantidade razoável.
O
desenvolvimento cognitivo e emocional na criança ocorre a partir das
experiências vividas, assim como a compreensão que ela tem da realidade é
construída no decorrer das experiências simbólicas. Este é um dos principais
motivos pelo qual as crianças utilizam o jogo e a brincadeira no seu cotidiano.
Quando por exemplo, a menina brinca de mamãe, assumindo seu papel, passa a
entender melhor suas atitudes, já que agora ela “ocupa o lugar” da sua
principal referência ou ainda quando o garoto “faz de conta” que é bombeiro
como o pai, imitando-o nos seus mínimos detalhes pode experimentar, assim como
a menina, os possíveis papeis que os adultos assumem, podendo ou não auxiliar
numa atividade futura.
Podemos
observar assim, através desse pequeno discurso, como é extraordinária a
abrangência dos comportamentos solicitados pelas brincadeiras dos pequenos,
pois reúnem, tanto atividades físicas quanto mentais e imobilizam suas
disposições cognitivas sociais e emocionais. Essa é mais uma importância de sua
relevância para a formação da personalidade.
Outro
aspecto da amplitude que o jogo oferece, diz respeito a seus vínculos com a
sociabilidade. É fácil verificar que os jogos coletivos obrigam a criança a
organizar-se mutuamente nas ações, a intensificar as comunicações e a cooperar.
De certo modo permitem a descoberta do “outro” e isso repercute sobre a
descoberta de si mesmo. Não há dúvidas de que os jogos individuais também têm
seus valores quando desenvolvem prazerosamente habilidades físicas e mentais.
“As
crianças são “as personagens “dos jogos. Os papeis mudam de um cenário para
outro. E todas têm a oportunidade de experimentar “pegar o outro ou serem
pegos”; brincar com os amigos ou entre eles. É só um jogo. Mas é muito mais do
que um jogo”. (FREEDMANN, 1996)
Por que as crianças brincam?
A
maioria das pessoas diria que a utilidade primordial das brincadeiras seria a
descontração e que as crianças brincam porque gostam. Esse é um fato
indiscutível. “As crianças têm prazer em todas as experiências, física e
emocional" (WINNICOTT, 1982, p. 161).
Mas
trás desse prazer, escondem-se os seus objetivos mais significativos, pois é
através da brincadeira que as crianças tentam compreender o mundo em que vivem,
conquistando maior autonomia. Trazendo a
realidade para seu mundo simbólico, as crianças têm a possibilidade de reverter
situações que lhe impõem dificuldades distorcendo-as a seu favor, ou até
imitando incondicionalmente cada aspecto identificado por elas.
“Conquanto
seja mais fácil perceber que as crianças brincam por prazer, é muito mais
difícil para as pessoas verem que as crianças brincam para dominar angustias,
controlar ideias ou impulsos que conduzem a angustia, se não forem dominados” (WINNICOTT,
1982, p. 161).
Logo,
é através das atividades lúdicas que a criança pode explorar sentimentos
reprimidos ou que não tem capacidade, no momento, de expressar através das palavras. Mas
não só relacionamos a brincadeira a processos psicológicos. As atividades
lúdicas influenciam diretamente no seu desenvolvimento intelectual através de
exercícios que envolvem processos mentais.
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“O
desenvolvimento da inteligência se relaciona com a linguagem e com o discurso”
(KOUDELA, 1990, p. 27), pois é através da sua exploração que ela pode perceber
não só a sua importância como também a sua funcionalidade. “A brincadeira é a
prova evidente e constante da capacidade criadora que quer dizer vivência"
(WINNICOTT, 1982, p. 161).
Outra
maneira de encarar esse assunto complexo é que nas brincadeiras, a criança liga
as ideias com a função corporal. “O
prazer derivado da capacidade de funcionar é um dos mais puros e importantes.
Gostamos da experiência de que nosso corpo funciona bem” (BETTELHEIM, 1998, p.
144).
Por
isso, não raras vezes a criança encontra prazer nas atividades esportivas
desafiando os limites de seu corpo.
Assim,
“Podemos observar, que as atividades lúdicas são o cerne do desenvolvimento
humano, desde quando constituem ainda uma das principais bases da civilização”,
(HUIZINGA, 1980, p. 8), pois uma das principais características humanas reside
na capacidade de construir símbolos.
Texto escrito por:
Ivana
Braga Falcon.
Psicopedagoga,
especialista em Neuropsicologia, Pedagoga.
Coautora
do livro “Transtornos e Dificuldades de Aprendizagem” pela editora WAK, 2011.
Palestrante,
professora em cursos de pós-graduação, formadora de pais e de professores.
(71)
8114-2759
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